segunda-feira, setembro 26, 2005

As autárquicas abrem o apetite...



Apesar dos cartazes decadentes com fotografias de famílias sorridentes e casais apaixonados a dizer que “Amam Braga” e da estranha predominância de cartazes de um certo partido, a campanha para as autárquicas decorria calmamente na bela cidade de Braga…
Até que um belo dia, um estranho fenómeno perturba este sossego! Começam a aparecer chouriças nas caixas de correio…
Tudo isto, porque o candidato a presidente da junta de determinada freguesia achou que seria uma atitude simpática, presentear os seus possíveis eleitores com a sua pequena chouriça!
Mas o mais aliciante de toda esta história, foi o facto do episódio da dita chouriça ter sido falado numa estação de televisão, com queda para a polémica, e o sr. presidente da junta ter aparecido muito sorridente, com a sua dita cuja na mão!
Uma atitude muito portuguesa e muito bracarense (não que eu não goste da minha bela cidade, claro!)
Durante alguns dias tentei descodificar a ideia subjacente da chouriça e espero, sr. presidente, que não tenha deturpado as suas chouriças com técnicas vodoo…Senão cada vez que alguém trincar a chouriça, o sr. presidente vai sentir dores muito desagradáveis numa certa zona do corpo…
Com votos de umas eleições autárquicas pacíficas, me despeço…

sábado, setembro 17, 2005

Olhos da Alma



Viajamos em silêncio…estranho a excessiva atenção com que vais à estrada, sinto o teu sofrimento mas olhas para mim a sorrir. Queres fazer-me crer que és feliz e que a vida é perfeita…
Finalmente chegamos! O edifício frio e cinzento suga a réstia de felicidade que possuímos…
Dás-me a mão com a secreta esperança de que as nossas forças se unam para enfrentar a torrente de emoções que ali vagueiam. Respiro fundo e coloco a máscara que esconde aquilo que sinto, mas os meus olhos atraiçoam-me! O teu passo seguro leva-me por recantos onde a vida luta para se impor. Vejo outros olhos, mas esses não são inseguros como os meus, têm em comum uma força e uma coragem contrastantes com a fraqueza dos seus corpos!
Já não sinto a minha mão por causa da força com que a apertas, na verdade, deixo de sentir todo o meu corpo por causa da força de todos aqueles olhos. Como é possível corpos tão doentes terem uma força interior tão grande? Olho-os e transmitem-me força (quando deveria acontecer precisamente o contrário) são crianças na sua maioria, só podem ter por companhia a mãe ou o pai que brincam com eles ou lhes contam histórias, daquelas que têm sempre um final feliz!
Vejo uma rapariga, que aparenta ter a minha idade, já sem cabelo devido aos tratamentos. Olhamo-nos durante uns eternos segundos, eu sorrio, ela retribui…as palavras estragariam tudo…! Saio do edifício cinzento com imensa vontade de te explicar o quanto aquilo tinha mudado a minha vida, mas opto por respeitar o teu silêncio.
Retomamos a viagem de regresso, falamos de coisas banais e por momentos consigo fazer-te rir! Paramos por causa do trânsito infernal, tu resmungas e olhas para mim como se fosse a primeira vez que me visses! A força desse olhar era-me familiar, reparei numa lágrima que insististe em esconder de mim. Quiseste explicar tudo aquilo mas não te deixei, porque também eu nunca te vira realmente até esse dia…

sexta-feira, setembro 02, 2005

Tempo devastador

“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim”

Sophia de Mello Breyner Andresen


Uma praia deserta, ao longe aquela fortaleza no meio do mar, escondida e misteriosa que eu tão bem conheço sem nunca ter ido lá…
O mar está agitado, as ondas revoltam-se e vão desmaiar em espuma na areia molhada. Eu estou contigo numa zona da praia com plantas agrestes, a praia tem um aspecto quase selvagem. Agora não passas de uma alma, mas na altura estavas lá e existias para mim e para os outros…
Eu mostro-te um búzio que apanhei e tu, com aquela paciência que te caracterizava, escutavas com atenção o que eu te dizia, enquanto eu apertava a outra mão com o nervosismo de te mostrar a minha preciosidade.
Aqui e ali, vêem-se rochas espalhadas pela praia e pelo mar.
É um momento perfeito num ambiente onírico para o qual contribui a névoa branca causada pela espuma das ondas, que envolve a praia. Avistam-se meia dúzia de casas ao longe, mas também essas, com um aspecto inabitável
O sol está encoberto e o verde do pinhal contrasta com o branco da areia. È um tempo que não volta, parou ali, naquele momento perfeito, que eu agora recordo…
O mar parece um espelho e tu, com uma mão no bolso e a outra a segurar no búzio, fazes-me lembrar esse mar belo e poderoso... És também o búzio brilhante de tons quentes, diferente daquela praia de Inverno. Praia essa, que apesar de tudo, é uma praia bela e rara, no meio de todas as dores.
Agora, aqui, nessa mesma praia, ao observá-la sei que ela nunca mais vai ter o aspecto que tinha naquele momento…O mar agora está azul, brilhante, a fortaleza já não espreita curiosa, vê-se perfeitamente…
A areia tem uma cor diferente, já vejo bastantes casas (consequência do passar dos anos). A praia está cheia de gente cujas vozes apagam por completo o som do mar e do vento…E eu sinto-me como a gaivota, à espera do fim do dia para poder estar na “minha praia” a olhar para o mar, a conversar com ele …
Apanho outros búzios, mas sei que nunca vou encontrar outro búzio como aquele. E a tua cara, essa, nunca vou esquecer e para isso não preciso de fotografias, olho para o mar e vejo-a…
Neste momento deves estar num sítio parecido com o que eu recordo, ou se calhar aquele momento eternizou-se e tu ainda estás lá…