Tal como as cerejas!
“Bom dia! Queria um bilhete para a UM se faz favor!” O motorista, com aquele ar de quem não vê uma mulher há séculos, lá me vende o bilhete…
E é aí que eu passo para outra dimensão, sem que eu queira, vejo-me envolvida nas vidas das outras pessoas.
- “Ah aquela mulher é demais! Anda a trair o homenzito, tadito, ele que trabalha tanto!”
- “Mas já viu alguma coisa?”
- “Não, mas toda a gente comenta…”
- “Tou bués nervosa com o exame de Psicologia, aquele prof é mesmo…”
- “Oh filha será que deixei o ferro ligado?”
- “Aquele homem, aquele homem nem devia estar metido na política! Ele nem doutor é! Dizem que é jornalista…”
Dá-me uma vontade enorme de me levantar e “iluminar” aquele pobre ignorante, dizer-lhe que os jornalistas também tiram cursos…mas não vale a pena, ele é feliz assim, julga que a sua experiência de vida lhe permite dizer tudo o que quer!
Uma mulher sente-se mal…o motorista pára o autocarro e diz que vai chamar uma ambulância. Há um lado bom em mim que sente pena da mulher, mas há outro lado mais egoísta que pensa:”Vou chegar tarde a uma aula porque uma mulher resolveu chamar as atenções!” E se fosse só isso? Chamar as atenções? Toda a gente gosta de chamar as atenções de uma maneira ou de outra (simplesmente alguns são mais subtis a fazê-lo) além disso ela podia estar realmente mal…
A ambulância vem, uma freira sentada ao meu lado diz:”Deus olhe por ela!” Pensei em dizer”Ámen” mas era mais uma vez o meu lado cruel a falar!
A viagem (sim, porque um trajecto que seria curto, transformou-se numa viagem atribulada) continuou e com ela reapareceram as conversas paralelas.
- “Achas que ele está interessado em mim?”
- “Não sei, mas aqueles olhares não enganam ninguém!”
Falsas amigas a criarem expectativas à rapariga! Ou seria verdade? Pouco me importa!
- “Coitadinho dizem que está a morrer…”
- “Se calhar é melhor assim…para acabar com o sofrimento!”
Mas o que é o sofrimento? Será que ele é mais forte que a vontade de viver? Lembro-me da eutanásia…
- “Vivo com a minha mãe e para não estar a fazer duas comidas, tenho que comer tudo sem sal e sem especiarias!”
- “E a noite de ontem? DEMAIS!”
- “ Ó Vanessa, porta-te bem, olha que levo-te já para o colégio!”
Que engraçado! Supostamente o colégio devia ser um sítio agradável e não um castigo…
- “Ai o meu filho é um amor de miúdo! Até me custa pedir-lhe, mas lava-me a loiça! Outro dia cheguei a casa e estava-me de avental e cuecas a lavar a loiça com a música nas alturas!”
Bem que imagem idílica…
- “Esta juventude é muito malcriada! Auntrodia (tradução: outro dia) ia uma velhinha e uma grávida sem lugar e eles todos sentados a rir!”
Porque não deste à velhinha o teu lugar?
- “ Ai estes incêndios! Já não se vê aquele sol brilhante como antigamente...é tudo cheio de fumo!”
Concordo plenamente, embora não conheça o sol de antigamente…
Vejo uma rapariga conhecida:”Olá tudo bem? Estás a gostar do curso? Em que curso estás mesmo?” Bem, entrei também nas conversas de autocarro, as conversas que não dizem nada, nem levam a lado nenhum, conversas casuais que não deixam marcas no nosso pensamento, na nossa alma…
Cheguei ao meu destino, desci do autocarro, voltei à minha realidade…
E é aí que eu passo para outra dimensão, sem que eu queira, vejo-me envolvida nas vidas das outras pessoas.
- “Ah aquela mulher é demais! Anda a trair o homenzito, tadito, ele que trabalha tanto!”
- “Mas já viu alguma coisa?”
- “Não, mas toda a gente comenta…”
- “Tou bués nervosa com o exame de Psicologia, aquele prof é mesmo…”
- “Oh filha será que deixei o ferro ligado?”
- “Aquele homem, aquele homem nem devia estar metido na política! Ele nem doutor é! Dizem que é jornalista…”
Dá-me uma vontade enorme de me levantar e “iluminar” aquele pobre ignorante, dizer-lhe que os jornalistas também tiram cursos…mas não vale a pena, ele é feliz assim, julga que a sua experiência de vida lhe permite dizer tudo o que quer!
Uma mulher sente-se mal…o motorista pára o autocarro e diz que vai chamar uma ambulância. Há um lado bom em mim que sente pena da mulher, mas há outro lado mais egoísta que pensa:”Vou chegar tarde a uma aula porque uma mulher resolveu chamar as atenções!” E se fosse só isso? Chamar as atenções? Toda a gente gosta de chamar as atenções de uma maneira ou de outra (simplesmente alguns são mais subtis a fazê-lo) além disso ela podia estar realmente mal…
A ambulância vem, uma freira sentada ao meu lado diz:”Deus olhe por ela!” Pensei em dizer”Ámen” mas era mais uma vez o meu lado cruel a falar!
A viagem (sim, porque um trajecto que seria curto, transformou-se numa viagem atribulada) continuou e com ela reapareceram as conversas paralelas.
- “Achas que ele está interessado em mim?”
- “Não sei, mas aqueles olhares não enganam ninguém!”
Falsas amigas a criarem expectativas à rapariga! Ou seria verdade? Pouco me importa!
- “Coitadinho dizem que está a morrer…”
- “Se calhar é melhor assim…para acabar com o sofrimento!”
Mas o que é o sofrimento? Será que ele é mais forte que a vontade de viver? Lembro-me da eutanásia…
- “Vivo com a minha mãe e para não estar a fazer duas comidas, tenho que comer tudo sem sal e sem especiarias!”
- “E a noite de ontem? DEMAIS!”
- “ Ó Vanessa, porta-te bem, olha que levo-te já para o colégio!”
Que engraçado! Supostamente o colégio devia ser um sítio agradável e não um castigo…
- “Ai o meu filho é um amor de miúdo! Até me custa pedir-lhe, mas lava-me a loiça! Outro dia cheguei a casa e estava-me de avental e cuecas a lavar a loiça com a música nas alturas!”
Bem que imagem idílica…
- “Esta juventude é muito malcriada! Auntrodia (tradução: outro dia) ia uma velhinha e uma grávida sem lugar e eles todos sentados a rir!”
Porque não deste à velhinha o teu lugar?
- “ Ai estes incêndios! Já não se vê aquele sol brilhante como antigamente...é tudo cheio de fumo!”
Concordo plenamente, embora não conheça o sol de antigamente…
Vejo uma rapariga conhecida:”Olá tudo bem? Estás a gostar do curso? Em que curso estás mesmo?” Bem, entrei também nas conversas de autocarro, as conversas que não dizem nada, nem levam a lado nenhum, conversas casuais que não deixam marcas no nosso pensamento, na nossa alma…
Cheguei ao meu destino, desci do autocarro, voltei à minha realidade…